O Choque de Gerações na Universidade: Quando o Silêncio Fala Mais Alto

Tenho 58 anos e depois de uma carreira de 35 anos no setor de turismo, decidi voltar à universidade. Há cinco anos, ingressei no curso de Hotelaria, e logo de cara comecei a observar um fenômeno intrigante: a forma como os alunos interagiam ou, na maioria das vezes, não interagiam. O silêncio parecia dominar as salas de aula, um contraste gritante com a minha época, em que debates e discussões eram a norma.
Me formei novamente, mas a curiosidade me moveu a uma nova jornada. Há um ano, comecei a cursar Gastronomia, e o que percebi foi um agravamento desse comportamento. A falta de participação, a pouca conversa sobre o conteúdo das aulas e a pressa para que a aula termine são mais evidentes do que nunca. Essa vivência me fez refletir profundamente sobre a distância que se criou entre gerações e sobre as novas dinâmicas de aprendizado. Sentindo esse choque cultural, buscando entender por que a sala de aula se tornou um espaço de silêncio e o que podemos aprender com essa nova realidade.
Você já reparou na diferença de comportamento entre os estudantes de hoje e os de antigamente? Se você faz parte da geração que viveu a universidade antes da era digital, provavelmente se lembra das aulas cheias de debate, perguntas e uma troca constante de ideias com o professor. Mas, ao entrar em uma sala de aula atualmente, você pode encontrar um cenário bem diferente: silêncio.
Esse fenômeno, que muitos percebem como desinteresse ou falta de proatividade, é, na verdade, um reflexo de uma profunda mudança cultural e social. A nova geração de universitários, frequentemente chamada de Geração Z, cresceu em um mundo de conectividade instantânea, onde a comunicação presencial se tornou apenas uma das muitas formas de interação.
Para as gerações mais antigas, a participação em sala de aula era uma forma de mostrar conhecimento, engajamento e paixão pelo tema. O debate era o palco principal para a troca de ideias. Para a Geração Z, no entanto, o engajamento pode acontecer de forma mais discreta, em ambientes que lhes dão mais controle.
Estudos de pesquisadores como o Pew Research Center apontam que a Geração Z tende a ser mais cautelosa em interações sociais presenciais. A cultura da internet, com seus julgamentos rápidos e críticas públicas, moldou uma geração que prefere se expressar em plataformas virtuais, como fóruns online ou grupos de mensagens, onde a interação é menos exposta e mais "segura". O silêncio na sala de aula, portanto, não significa desinteresse, mas sim uma preferência por uma forma de comunicação diferente, mais alinhada com a forma como eles interagem fora dela.
Outro fator importante é a percepção do tempo. Em um mundo onde a informação está a um clique de distância, o valor de uma aula é frequentemente medido pela eficiência com que o conteúdo é transmitido. Debates que para você seriam enriquecedores podem ser vistos por eles como desvios do objetivo principal: absorver o conteúdo de forma rápida e pragmática para passar na prova.
Como a psicóloga e educadora Jean Twenge descreve, a mentalidade da nova geração é frequentemente focada em resultados. Eles valorizam o aprendizado autônomo e buscam o conhecimento por conta própria, seja em vídeos, artigos ou resumos online. O professor, nesse contexto, é menos um mestre do conhecimento e mais um facilitador, responsável por orientar a jornada de aprendizado. O "incômodo" que alguns demonstram com a participação mais ativa pode ser, em essência, um choque entre essa mentalidade pragmática e o modelo tradicional de ensino.
O contraste entre a minha forma de interagir e a deles não é um problema de "certo ou errado", mas um reflexo da evolução das dinâmicas sociais. A sua proatividade e o seu entusiasmo são, na verdade, recursos valiosos. Eles podem inspirar uma nova forma de ver o aprendizado, mostrando que a interação humana e o debate ao vivo têm um valor que a tecnologia, por si só, não pode replicar.
Em vez de ver essa diferença como um abismo, podemos encará-la como uma oportunidade para construir pontes. O desafio para a universidade e para os próprios alunos é encontrar um equilíbrio entre as novas formas de comunicação e o valor atemporal do diálogo. Minha voz na sala de aula é um lembrete poderoso de que, apesar de toda a tecnologia, a troca de ideias e a paixão pelo conhecimento continuam a ser o coração da experiência acadêmica.
A falta de brilho nos olhos, a pouca conversa e o foco apenas no que é preciso para passar me deixam com o coração apertado. Sinto falta da troca, da conexão, da curiosidade que nos fazia ficar depois do horário para continuar a discussão. Sinto falta da época em que a sala de aula era um espaço de encontro e de paixão, e não apenas de passagem.
O tempo passa, os conceitos mudam .... Talvez eu realmente esteja velha para isso.
Verônica Silveira Nicoletti